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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Amoras

Ah, o som da chuva interrompe meu sono. Os barulhos dos trovões me dá medo. Escondo-me debaixo dos lençóis da minha cama pequena feita de uma madeira com um cheiro forte que me faz sentir-me tão bem quanto estar caminhando em um parque antigo com figueiras e eucaliptos por todos os lados. Deve ser feita de eucalipto... Acendo o pequeno abajur amarelo que ganhei do meu falecido avô, mas parece-me que a eletricidade caiu com a chuva. Sinto-me sozinho. Tento encontrar algo que ilumine em uma gaveta na estante do outro lado da minha cama. Com meu tato vou tentando encontrar e sinto algo cortante vindo de encontro com meu dedo indicador. Sinto o sangue quente escorrendo e como de costume, levo-o direto a minha boca. Sinto o gosto estranho e salgado do meu sangue em minha boca... O corte demora para se fechar, levanto e vou caminhando a procura do banheiro. Tropeço em algumas coisas que não sei distinguir e quase vou de encontro com o chão... Seguro na estante de livros na porta do meu quarto, sinto ela tremer, e confesso que fiquei apreensivo se ela caísse sobre mim...
Chego ao banheiro com o dedo na boca ainda... Abro a torneira, nada. Sem água, sem luz. E meu dedo ainda sangrando... Maldita tempestade! Sento no chão do banheiro xingando baixo essa situação. Tento me lembrar onde deixara meu relógio, quero saber que horas são. Está na casa da Sarah, merda! Preciso achar meu celular. Levanto-me depressa e vou rápido ao meu quarto... Tateio a parte da estante onde costumo deixar meu celular, e quando o encontro... Sem bateria. Merda. 
Vou até a janela para matar o tédio. Olho a tempestade lá fora, trovões gigantescos, a chuva não para, o vento derrubara árvores e empurrara carros no meio da rua. Não vejo ninguém encarando a tempestade. Bem distante, no meio das milhares de nuvens, a Lua aparece, radiante e brilhante. Uma chuva com um luar esplêndido. Penso em amoras. Amoras? Por que amoras? Lembro-me da fazenda do meu pai. Hectares de plantações, eu dentro da plantação de pés de amoras silvestres. Dezenas de abelhas me seguindo e eu com minha velha mãe correndo por entre os troncos, e logo após a plantação encontrando um lago, que meu velho dizia para não saltar dentro dele pois havia peixes carnívoros. Sem pensar minha mãe saltou e me levou junto. Ela me abraçara e esperava as abelhas irem embora... Foi um dos momentos que mais senti medo. A água gelada me fazia sentir frio. E a melhor coisa que lembro-me é o abraço caloroso da minha mãe e suas palavras: "Eu estou aqui filho, eu estou aqui.".
Meu rosto estava molhado, pensei logo em dizer que era a chuva, mas senti uma água salgada sobre meus lábios e então percebi que estava chorando. A solidão me consumira sem eu perceber. Quero sair daqui. Quero logo sair da solidão do escuro do meu quarto. Preciso de um abraço apertado. Preciso de palavras dizendo que tudo ficará bem... Preciso de amoras. Droga! Amoras de novo?
Um momento a mais e eu ficarei louco, preciso dormir. Deito por cima de tantas roupas e lençóis, limpo meu rosto com alguma camiseta debaixo de mim, olho para o teto, sinto o cheiro forte da minha cama outra vez. Amoras, sinto o cheiro de amoras.
Marcus James

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