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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Transitamos

 Estamos o tempo todo cercados por informação. Mas nenhum tipo de atenção.
Ouvimos do vento o que gostariamos de ouvir de nossos pais. Falamos para árvores em pensamento e sentimos o sol como um abraço. Que mundo é esse onde as pessoas andam de fato sós?

 Eu penso o tempo todo, será que amor é transitar dentro de outro ser? Assim eu transito em você e você me transitas. Transitamos.
Penso ainda mais uma coisa, quantos podem transitar? Será que existe um limite de seres que transitam em nós? Será que existe uma permissão de fato, para que transitem?

 Porque tudo que restam sempre, são as questões. Tenho uma porção dentro de mim. Faz o seguinte amor, um dia, quando transitar em mim responde uma porção delas tá? Ou só me ame por dentro. Assim tenho certeza de que todas vão cessar.

Beatriz Oliveira.

Amoras

Ah, o som da chuva interrompe meu sono. Os barulhos dos trovões me dá medo. Escondo-me debaixo dos lençóis da minha cama pequena feita de uma madeira com um cheiro forte que me faz sentir-me tão bem quanto estar caminhando em um parque antigo com figueiras e eucaliptos por todos os lados. Deve ser feita de eucalipto... Acendo o pequeno abajur amarelo que ganhei do meu falecido avô, mas parece-me que a eletricidade caiu com a chuva. Sinto-me sozinho. Tento encontrar algo que ilumine em uma gaveta na estante do outro lado da minha cama. Com meu tato vou tentando encontrar e sinto algo cortante vindo de encontro com meu dedo indicador. Sinto o sangue quente escorrendo e como de costume, levo-o direto a minha boca. Sinto o gosto estranho e salgado do meu sangue em minha boca... O corte demora para se fechar, levanto e vou caminhando a procura do banheiro. Tropeço em algumas coisas que não sei distinguir e quase vou de encontro com o chão... Seguro na estante de livros na porta do meu quarto, sinto ela tremer, e confesso que fiquei apreensivo se ela caísse sobre mim...
Chego ao banheiro com o dedo na boca ainda... Abro a torneira, nada. Sem água, sem luz. E meu dedo ainda sangrando... Maldita tempestade! Sento no chão do banheiro xingando baixo essa situação. Tento me lembrar onde deixara meu relógio, quero saber que horas são. Está na casa da Sarah, merda! Preciso achar meu celular. Levanto-me depressa e vou rápido ao meu quarto... Tateio a parte da estante onde costumo deixar meu celular, e quando o encontro... Sem bateria. Merda. 
Vou até a janela para matar o tédio. Olho a tempestade lá fora, trovões gigantescos, a chuva não para, o vento derrubara árvores e empurrara carros no meio da rua. Não vejo ninguém encarando a tempestade. Bem distante, no meio das milhares de nuvens, a Lua aparece, radiante e brilhante. Uma chuva com um luar esplêndido. Penso em amoras. Amoras? Por que amoras? Lembro-me da fazenda do meu pai. Hectares de plantações, eu dentro da plantação de pés de amoras silvestres. Dezenas de abelhas me seguindo e eu com minha velha mãe correndo por entre os troncos, e logo após a plantação encontrando um lago, que meu velho dizia para não saltar dentro dele pois havia peixes carnívoros. Sem pensar minha mãe saltou e me levou junto. Ela me abraçara e esperava as abelhas irem embora... Foi um dos momentos que mais senti medo. A água gelada me fazia sentir frio. E a melhor coisa que lembro-me é o abraço caloroso da minha mãe e suas palavras: "Eu estou aqui filho, eu estou aqui.".
Meu rosto estava molhado, pensei logo em dizer que era a chuva, mas senti uma água salgada sobre meus lábios e então percebi que estava chorando. A solidão me consumira sem eu perceber. Quero sair daqui. Quero logo sair da solidão do escuro do meu quarto. Preciso de um abraço apertado. Preciso de palavras dizendo que tudo ficará bem... Preciso de amoras. Droga! Amoras de novo?
Um momento a mais e eu ficarei louco, preciso dormir. Deito por cima de tantas roupas e lençóis, limpo meu rosto com alguma camiseta debaixo de mim, olho para o teto, sinto o cheiro forte da minha cama outra vez. Amoras, sinto o cheiro de amoras.
Marcus James

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Vou-me embora

E de repente, a tempestade se tornou uma leve brisa, as ondas violentas um doce som do mar ao encontro da areia da praia, os trovões em cantos de pássaros... Tudo mudou, e continuo no mesmo lugar. Sentado na beira do mar, num cais qualquer, esperando qualquer navio ou canoa vir me buscar. Preciso sair daqui, preciso velejar e ver o mar me atacar com diferentes visões. Preciso mudar o mundo, o meu. Longe de casa estarei, e nada mais vai me importar. Quando sentir minha falta, grite. Talvez eu volte a te encontrar... Já é tarde para pensar, o que importa agora é o que vou fazer quando o abismo chegar até mim.
Estou perto de cair, o abismo parece sem fim. Estou com medo. Junte-se a mim, vamos pular, talvez descobriremos algo novo. O mar não pode ser tão cruel assim, a mim nada mais importa. Posso até estar louco, mas por favor, não me insista para eu ficar. Preciso de outros olhos, preciso sentir outra vez algo novo. E a cada maravilha que conheço, mais fascinado fico. Suas gigantescas ondas ao longe, quero logo sair daqui. Quero velejar o mundo e conhecer lugares perigosos, com ou sem você. Venha, eu te chamo, venha comigo. Seu medo logo virará prazer, te busco daqui algumas horas, leve somente o necessário. Vem, vamos viajar o novo juntos. Ou então me espere, prometo voltar, talvez em algumas décadas a gente volte a se encontrar, na mesma praia, no mesmo banco de anos atrás. Gosto daqui, mas preciso partir. Já é tarde.
Vou-me embora, minha carona já terá partido quando vier, não me procure. Se ao menos sentir saudade, escreva cartas, mas não envie. Logo te procurarei. Viva outras vidas enquanto não vivermos a mesma. E quando me encontrar, lembre-se daquela promessa que te fiz...
Até logo, minha pequena menina.
Marcus James