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terça-feira, 23 de outubro de 2012

O despertar

        Duas horas da manhã. Sua porta de madeira clara e gasta estava em minha frente. Meu inconsciente gritava no meu interior para não bater na porta, e de tanto insistir, acabei lembrando de coisas que já pensava ter esquecido... Aquelas palavras, aqueles estranhos desejos que eu sentia me deram um sentimento que até agora não conhecia. Algo chamado nostalgia. E de repente, me vi sorrindo, em frente a sua porta, sabendo que você não estava sozinha, sabendo que todas as coisas que disse pra mim foram mentiras, sabendo que está falando essas mesmas coisas para outra pessoa. Sabendo que eu e você nunca chegamos perto de ficarmos juntos, nunca.

        Quatro de abril de 1998. Seus braços me acalmavam e conduziam para um estranho sentimento. Um sentimento, um estranho nada real. O silêncio tomava conta de meus pensamentos, e meus olhos tentavam te encontrar dentro dos teus. Seus negros cabelos me seduziam de um jeito único, era algo irreal. Não te queria só ali, te queria inteira. Te queria de um jeito inimaginável. E os seus sonhos loucos eu sonhava conhecer...
        
        Nove de julho de 2000. Era noite, você deixou um recado em cima da minha mesa: "Mesmo lugar de sempre, 19h30". Sorri logo ao terminar de ler. Era 17h45, corri para cara, tomei um banho gelado para espantar o que aquela insônia, que me incomodava fazia alguns dias, trazia. Coloquei uma camisa com colarinho branco. Minha melhor calça e meu melhor sapato. Fui até o Empório 13, no final da rua Seringueira. 19h32. Ela estava lá, sentada com seu vinho preferido: "Budapeste". Sentei-me, e ela não sorria.
"Não dá mais, desculpa, não tenho como explicar, isso é só um adeus."

        Sentei-me em frente sua casa, os poucos carros passavam e eu os observava com atenção. Fingia me importar com aquelas pessoas, mas meu pensamento ainda estava em alguns anos atrás... Um sonho estava pra acabar.
- David... O que...? Venha, estava pensando em você.
Marcus James

sábado, 6 de outubro de 2012

Vermelho

      Fechei os olhos. Estava estranho, com um sentimento amargo que não sabia de onde vinha. Me encontrei em um mundo sombrio, estava acordado, eu acho, mas aquilo parecia um sonho. Do meu lado estavam gigantescas árvores, árvores vivas, com um verde exuberante em suas folhas. Seus galhos se estendiam para além de cinco ou seis metros... E no outro lado, o mar... Tão selvagem, tão calmo. Tão assustador, tão lindo. Tão poderoso... E ao longe, estava uma torre. Uma torre enorme, que pela minha visão se media uns 60 metros. Todo vermelho, e bem em cima, tinha uma luz enorme que iluminava quase tanto igual a Lua iluminava aquela noite... Estava parado em uma rua de terra estreita. O vento batia e me trazia arrepios medonhos. O que era aquilo, que pensamento ou sonho seria este?
     Comecei a andar em direção ao farol. Algumas folhas secas caiam em meu caminho, fiquei apreensivo em pisa-las, mesmo secas, eram tão vivas...
     Chegando ao farol, eu percebi que não existia uma entrada. Demorei uns 10 minutos para dar a volta nele. E quando percebi que não existia mesmo uma entrada ouvi um grito. Um grito angustiante e triste. O que era aquilo?
Meus olhos se abriram, meu corpo tremia todo. O que foi aquilo? Onde eu estava? Quem gritou? Meu coração acelerou. Comecei a me acalmar, foi só um sonho... Mas porque parecia tão real? Porque eu conseguia sentir o vento batendo em mim? O que foi aquilo!?
     Longos minutos se passaram, e meu sono não voltara. Acendi a luz, e me olhei no espelho. E comecei a lembrar de coisas esquecidas. Tudo me voltava ao meu presente. Meus sentimentos estranhos que não encaixava no dos falados pela sociedade. Meus estranhos prazeres. Minha idiota, e estúpida obsessão por seus lábios. E que vontade que cresceu em mim, de derrubar essa porta, te procurar nos bares que costumávamos ir. À aquela pequeno empório no fim da Avenida Quatorze, onde te vi pela primeira vez. Você com aquele uniforme bege, e sua vontade imensa de sair dali, mandar seu chefe a merda e viajar. Me lembrei até do segredo que me disse após o primeiro beijo. E me vi vendo o farol vermelho novamente. Os gritos ecoavam em minha mente. Cadê você? Onde? Venha logo, me tire daqui. Venha logo, venha. Vamos fugir desse pesadelo. Onde está você?
Marcus James